Pato, Patinho, Patão

E eis que o último pedaço se quebra,
E tudo o que resta é o vazio,
Do espaço a céu aberto,
Por tal fragmento deixado.

Percebi que o patinho feio
Nunca se iria transformar num belo cisne,
E toda a aldeia iria continua-lo a vê-lo
Como um ser estranho,
Especial em jeito depreciativo.

Eis também, que a ultima pena voou
Para longe de mim.
Os anos não irão andar para trás,
Certamente.

O sentimento de solidão
Não se descola da minha pele.
Sinto o vento que me bate no rosto,
Mas que tem como derradeira missão
Limpar as lágrimas que o cobrem
Sem deixar espaço para entrar um raio de sol.

E este patinho feio,
Agora vazio,
Sem a sua ultima pena,
Sonha com o futuro.

Nunca será cisne,
Mas também,
Não poderá ser o único patinho diferente,
No meio de tantos,
Pois não?

Mas bate de novo
Aquela sensação salgada,
Do toque da sua pele depenada
Que já se adivinha
Cheia de solidão
E de uma frieza
Que até o gelo faz tremer.

Não solta um som sequer,
Mas toda a sua dor,
Não é difícil de se ouvir.

Mas de orelhas moucas está coberto o mundo,
Mais ainda de ouvintes incautos,
Que nada sabem,
Que nada querem,
Que nada…
…percebem.

Patinho, porque não voas?
Para que servem as tuas asas?
Faz-te falta as penas?
Não sentes o vento?

Não, mas que procuras?
Uma razão, talvez.
Uma razão que te faça voar?
Mas que te prende?

Raízes negras,
De profunda mágoa?
Ou cicatrizes,
Sob a pele que te depenaram?

Meu patinho feio.
Serás sempre parte de mim,
Como fazes deste meu monólogo exteriorizado.

Voa, patinho feio, voa!
Um dia alguém poderá olhar
Para ti e não ver o patinho feio que és,
Mas um belo cisne!
Mas porque raio esperas, Patinho desgraçado?
A estupidez tem limites.

Voa, meu parvo!
2012